Muitas vezes conseguem se eleger, mesmo sem plataformas claras para seus mandatos.
Tiririca e seu filho |
Entra eleição, sai eleição, jogadores de futebol, pagodeiros, funkeiras e músicos de todas as vertentes, dançarinas, atores, comediantes, apresentadores de TV, ex-BBBs (participantes do programa de TV Big Brother Brasil) e qualquer um que se enquadre na definição moderna de “celebridade” ou “famoso” engordam a lista dos candidatos que tentam a sorte nas urnas. Muitas vezes conseguem se eleger, mesmo sem plataformas claras para seus mandatos.
O filho de Tiririca, Everson de Brito Silva, mais conhecido com o palhaço Tirulipa, é um deles. Filiado ao PSB desde 2011, tentará agora em 2012 uma cadeira na Câmara Municipal de Fortaleza. “Cada um tem sua opinião. Meu pai foi alvo de críticas durante toda sua campanha, e hoje ele mostra seriedade. Não faltou em nenhuma sessão da comissão dele”, diz. “Vou realizar trabalhos na área de cultura. Tenho um circo itinerante, já fazemos um trabalho social nos bairros que visitamos”, afirma o palhaço.
Vera Chaia, professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e pesquisadora do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), enxerga o fenômeno com ressalvas. “É um jeito de obter votos, um chamariz para o partido, já que estes candidatos geralmente não tem nada a dizer, não tem proposta politica”, diz. “Existem, no entanto, exceções. O Tiririca, por exemplo, surpreendeu. Esta na comissão de educação, nunca perdeu uma sessão. O Romário é outro, tem sido bem crítico com os desmandos da Fifa em relação à Copa do Mundo no Brasil; e o Jean Willis [ex-BBB], que sempre teve um envolvimento político e continua com esta militância”, afirma a professora.
“O problema não é o candidato celebridade em si, mas a legislação, que permite que eles puxem outros candidatos que não obtiveram votos suficientes, o que gera uma certa distorção”, diz Vera.
Para o professor Octaciano Nogueira, da UnB (Universidade de Brasília), a falta de cultura cívica do brasileiro explica a eleição destes candidatos, que considera um fenômeno de despolitização. “O eleitor brasileiro não sabe discernir as qualidades necessárias para que um candidato seja um bom político. O eleitor não tem critério”, diz.
Segundo o professor, a falta de interesse e participação dos cidadãos na política e na vida pública explica o fenômeno, que não é recente. “Nos anos 1950, São Paulo elegeu um rinoceronte como vereador, o Cacareco”, afirma Nogueira. “Acredito que o maior desafio cívico do Brasil hoje é justamente criar esta consciência de participação na vida política. O eleitor, quando quer desmoraliza as eleições com este tipo de voto inusitado, consegue. Só que isto não é bom para o país”, afirma Nogueira.
“Não podemos ter preconceito. Às vezes dá certo, como no caso do Tiririca”, diz. “Mas geralmente dá errado e o resultado é isso [esta câmara] que temos aí.”
O lançamento dessas candidaturas para cargos legislativos é uma estratégia dos partidos para conseguir eleger políticos profissionais através do coeficiente eleitoral. As eleições para vereador, deputado federal e deputado estadual são proporcionais. Isso significa que para eleger um candidato, o partido deve atingir um número específico de votos, que varia de acordo com a cidade ou estado.
Assim, os candidatos que recebem mais votos que o necessário para se eleger transferem para os outros candidatos do partido os votos excedentes. Logo, celebridades conhecidas são potenciais puxadores de voto.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com o PR de São Paulo nas eleições de 2010. Tiririca se elegeu deputado federal pela legenda com 1.353.367 votos.
Como o coeficiente eleitoral no Estado era de 304.533 votos, ele transferiu 1.048.834 de votos para o partido e ajudou a eleger outros três candidatos da coligação. Entre eles, o deputado federal Valdemar Costa Neto (PR), que em 2005 renunciou ao mandato em meio a acusações de envolvimento no escândalo do mensalão.
Uol
Nenhum comentário:
Postar um comentário