Dizer que é bomba é pouco.
A entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao site da revista britânica The Economist deixando clara, claríssima sua postura em favor do senador Aécio Neves (PSDB-MG) como candidato à Presidência em 2014 inevitavelmente influenciará a escolha do partido, embora ainda estejamos a mais de dois anos do início do processo de indicação.
FHC não disse: “Eu apoio Aécio”, mas afirmou que o ex-governador de Minas Gerais é “o candidato óbvio” e que 2014 não é mais a vez de Serra. Significa, em política, a mesma coisa.
FHC e Serra são amigos de décadas, foram companheiros de exílio, são correligionários e fundadores do PSDB. Serra foi importante ministro de FHC em duas pastas, Planejamento e Saúde.
A postura do ex-presidente mostra que ele não acredita nas chances eleitorais de Serra contra a presidente Dilma Rousseff e decidiu de privilegiar mais o partido e o futuro do partido do que suas profundas ligações com Serra.
Na entrevista a The Economist, cuja íntegra você pode ler em português neste link do site eagora, o ex-presidente, que a revista chama de “Cardoso”, a certa altura, diz o seguinte:
“(…) No caso do PSDB, o ex-governador Serra desempenha o papel de Lula: ele tem fibra, gosta de competir. Não sei até que ponto ele estará mais convencido que não é a vez dele, para dar espaço a outros.
The Economist: Quem seria o candidato óbvio?
Cardoso: Aécio Neves.
The Economist: Aécio pode ganhar?
Cardoso: Aécio é de uma cultura política brasileira mais tradicional, mais capaz de estabelecer alianças. Ele tem apoio em Minas Gerais [seu estado]. São Paulo não é assim, sempre se divide, é muito grande. As coisas vão ficar mais claras depois das eleições municipais [em outubro de 2012]. Provavelmente vamos ver uma forte luta interna no PSDB, entre Serra e Aécio.”
Serra, que mesmo quando FHC era presidente referia-se a ele em público como “o Fernando Henrique”, tal a intimidade de que sempre desfrutou com o presidente de honra do PSDB e sua falecida mulher, Ruth Cardoso, tinha em FHC sua principal escora entre os tucanos como candidato a qualquer coisa.
Agora, acaba de perdê-la.
Facada nas costas
Simultaneamente, Serra perde o apoio do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (criador do PSD, ex-integrante do DEM), que não declarou nada a respeito das eleições de 2014 mas, ao se dispor a indicar o candidato a vice-prefeito da cidade na chama do PT, afasta-se de vez de seu criador e mentor.
É uma punhalada nas costas que o prefeito aplica no ex-presidenciável: Kassab não era ninguém na política nacional quando Serra, contrariando muita gente do PSDB, escolheu seu nome como candidato do DEM a prefeito de São Paulo em 2004.
Kassab desfrutou de responsabilidades na curta gestão de Serra como prefeito e substituiu-o quando o titular renunciou para disputar, e vencer, as eleições para governador do Estado em 2006.
Como governador, Serra empenhou-se a fundo na reeleição de Kassab em 2008, apoiando-o inclusive contra o candidato de seu próprio partido, o hoje governador Geraldo Alckmin.
Esse episódio, aliás, acabou sendo um marco nas divisões internas do poderoso PSDB de São Paulo, e a decisão de FHC em relação à candidatura do mineiro Aécio pode ter sido também um gesto dramático destinado a acabar com o assanhamento autodestrutivo no principal ninho tucano.
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